Os profissionais da área da saúde estão constantemente envolvidos em cenários que podem levá-los à necessidade de compartilhar notícias difíceis com seus pacientes.
Por isso, precisam aprender desde muito cedo a conciliar diagnósticos com uma boa conduta em relação à família do paciente e à absorção de informações que, por vezes, são duras de receber. É nesse contexto que o protocolo SPIKES se faz fundamental.
O objetivo dessa ferramenta é transformar um contato delicado em algo menos danoso possível. Para isso, são respeitadas etapas, técnicas e muito mais.
Quer entender melhor o protocolo SPIKES? Então, continue a leitura e acompanhe suas recomendações!
O que é protocolo SPIKES?
O protocolo SPIKES foi criado nos Estados Unidos, nos anos 2000. Inicialmente, ele foi instituído para lidar melhor com a comunicação a pacientes com câncer, em especial para transmitir notícias ruins. Além dele, existem outros protocolos, mas esse é o mais aceito e também adaptável a outros cenários e diagnósticos.
As notícias ruins às quais nos referimos são, principalmente, aquelas que mudam de forma drástica a perspectiva do paciente e da sua família sobre o futuro do seu quadro de saúde. São informações que podem provocar profunda tristeza, indignação, frustração, raiva ou sensação de impotência, entre outros sentimentos.
É claro que isso varia de paciente para paciente — e existem diferentes situações em que essa comunicação é necessária. Para mencionar alguns exemplos, temos pacientes que são:
- praticantes de esportes ou danças e estarão fora de competições importantes em função da sua condição de saúde;
- motivados à maternidade ou paternidade, porém, são estéreis e não poderão realizar seu sonho por vias biológicas;
- obrigados a passarem por procedimentos emergenciais, porém, que contam com um alto risco de morte;
- entre diversos outros casos.
Qual é a sua importância?
Quando um médico chega a um diagnóstico preciso sobre essas condições, é necessário que ele comunique ao paciente ou aos familiares sobre o assunto. Mas, atenção, pois existe uma diferença importante a ser percebida entre a habilidade de comunicar e de informar algo a alguém.
A comunicação exige uma conversa chamada de mão dupla; você passa uma informação e recebe outra. Já na informação, você emite uma mensagem sem a obrigação de receber outra em troca. Nesse caso, o médico tem o dever de realizar uma comunicação assertiva, garantindo que o seu interceptor entenda a mensagem e a assimile.
Para tanto, é importante entender que cada pessoa lidará com uma “notícia difícil” de uma maneira peculiar. Então, assim como ela pode servir como uma forma de conscientização e aceitação, também pode causar revolta, traumas e desencorajamento.
É fundamental que haja empatia para aceitar que tanto os pacientes quanto os familiares podem não entender ou acreditar no diagnóstico ou tratamento. Além disso, podem haver dúvidas, medo e insegurança em relação à instituição hospitalar ou ao profissional, por exemplo.
Por isso, você, que está de fora, deve ter a calma e a empatia necessárias para compreender o que é realmente importante para a outra pessoa. A partir disso, deve ajudá-la a entender tudo o que ela quer saber e como é possível ir adiante, explorando as alternativas existentes.
Quais são as etapas do protocolo SPIKES?
Como você deve imaginar, nada disso é fácil. O protocólo SPIKES é um passo a passo que orienta o profissional por algumas etapas fundamentais para que as informações sejam assimiladas da melhor maneira possível. SPIKES é um acrônimo para:
- S — setting up ou a preparação para uma entrevista inicial para dar a notícia;
- P — perception ou como o paciente e a sua família percebem a informação;
- I — invitation ou o convite para falar mais sobre a doença, respeitando a decisão do paciente;
- K — knowledge ou o fornecimento do conhecimento necessário para todos entenderem o diagnóstico;
- E — emotions ou a preocupação com as alterações emocionais que a comunicação causou;
- S — strategy and summary ou a estratégia e o resumo da abordagem que orientará os próximos passos.
É claro que não é tão simples entender cada um desses aspectos de forma tão resumida. Por isso, apresentamos detalhadamente cada um deles a seguir. Confira!
Setting up
O setting up é, literalmente, a preparação médica para a abordagem ao paciente e aos familiares. É preciso pensar em um local privativo, em um momento mais calmo e em que todos possam se dedicar a prestar atenção ao que está sendo dito.
É preciso também eleger quem estará presente nessa conversa, tanto no que diz respeito aos familiares quanto à equipe que vai auxiliar no processo. Uma dica bacana é que haja mais familiares presentes do que profissionais de saúde. Isso deixará o momento mais íntimo e acolhedor.
Perception
A etapa de perception é aquela que visa entender melhor o que o paciente e a sua família sabem sobre o quadro, tanto em relação a uma determinada doença quanto a condição médica. O objetivo é corrigir eventuais distorções e equívocos nesse entendimento e melhorar a percepção sobre a situação.
Invitation
O invitation é uma fase de escolha, em que o paciente é colocado como quem decide o que quer saber. Muitas pessoas preferem que um familiar conduza a situação sem que elas saibam de nada. Outras, no entanto, preferem saber pessoalmente da situação.
Knowledge
Aqui, a dica é começar com um aviso de que você não tem boas notícias. Isso é importante para as pessoas assimilarem o que está por vir. Depois, o knowledge segue para a próxima fase, que é revelar o diagnóstico em termos que qualquer pessoa possa entender. Uma ferramenta importante a ser inserida aqui é a estratégia NURSE.
Emotions
A etapa emotions é justamente sobre observar e entender o que as pessoas estão sentindo, em especial, o paciente. A partir disso, você pode fazer afirmações que demonstrem que você compreende como essa pessoa se sente, como: “eu entendo que você esteja triste” ou “eu entendo que você esteja bravo”.
Mas é claro que tudo isso deve ser feito com tato, para não prosseguir uma comunicação indevida. Se for necessário, faça uma pausa.
Strategy
Por fim, cabe a vocês, juntos, e em um momento mais calmo, discutirem as alternativas de tratamento. No entanto, lembre-se de se certificar se o paciente está pronto para isso. Coloque-se à disposição para falar com os familiares e para explicar tudo o que eles quiserem saber.
O protocolo SPIKES não é uma fórmula engessada e é muito importante que ele seja conduzido com calma e empatia. As pausas são recursos fundamentais nesse processo, especialmente para garantir o entendimento das informações. Além disso, é preciso considerar as emoções e os sentimentos dos principais envolvidos.
Como você já deve saber, é muito importante que os médicos de unidade intensiva estejam preparados para lidar com esse tipo de situação, dando notícias ruins para os familiares e pacientes. Felizmente, o protocolo SPIKES pode tornar esse processo mais humanizado e empático, reduzindo o impacto emocional negativo desses momentos.
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